Meu escritor favorito, que na verdade nem sei como conheci e nem conheço ninguém que também conheça, tem escrito muito pouco.
Até aí tudo bem, não vivo das suas crônicas e pra ser bem sincera ele sempre escreve coisas que não batem com como eu enxergo a vida.
Também escreve de um jeito estranhamente autêntico que não tem nada a ver comigo. Como se as palavras não tivessem que ter encadeamento, coesão e norte, deixa fluir à própria sorte os caminhos do pensamento.
Isso é tudo o que não sou. Sou regrada, orgulhosa, metódica, até mesquinha, mas não sou solta. Ou sem norte. Sei exatamente onde quero chegar com o que escrevo.
Talvez aí que esteja o problema da minha escrita. Ou de mim. Ou do mundo. Talvez se o mundo fosse mais como as suas crônicas as coisas fossem mais verdadeiras.
Não digo mais felizes, nunca mais felizes, porque a felicidade do jeito que a vemos hoje tem um parentesco gigante com a mentira. Mas digo, verdadeiras mesmo.
Dizendo a verdade eu tenho é inveja. Inveja de como ele fala do grotesco e do sujo sem se importar. Inveja de poder mostrar por mostrar. Falar por falar e não pra chegar a algum lugar.
E talvez seja por isso que eu esteja tão triste que ele escreva tão pouco. Porque cada vez que leio, sinto que posso ser isso tudo de errado que sou. Sinto que a minha escrita não tem que estar a serviço de mais ninguém a não ser de mim. Sinto que posso escrever o que sinto. E só.